O Que Fazer Nordeste de Amaralina

“Saudade”: quando a música vira denúncia, memória e resistência

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Tem lançamento novo na pista, mas não é só mais uma faixa. É desabafo, é lágrima, é retrato vivo do que acontece nas vielas da nossa comunidade. O single Saudade, do artista Vizão BG, não veio pra tocar em rádio, veio pra tocar quem sente. Quem vive. Quem perde.

A música é uma homenagem a João Vitor, jovem trabalhador, pizzaiolo do Nordeste de Amaralina, que foi assassinado em 2023. Um nome entre tantos outros que viraram estatística, mas que aqui, nessa obra, volta a ser presença, volta a ser voz, volta a ser história.

BG, que assina a composição e interpretação, derrama nas linhas o peso do luto e o grito de quem cansou de enterrar inocente. “Tudo que saiu nisso aí foi do coração”, contou o artista. “Durante a gravação, irmão, tudo que eu fazia era chorar… Encantar o que tava no meu coração, mediante a tudo que aconteceu com o menor que não merecia ter ido desse jeito.”

Quem assina a produção de áudio é Doug Beats, referência pesada da cena musical de Salvador, que trouxe a base certa pra transformar dor em som. Já a direção visual ficou nas mãos de Dener Dublack, parceiro de caminhada de BG, que entregou um trampo sensível, respeitoso e necessário.

O clipe mistura registros íntimos da vida de João Vitor fotos e vídeos enviados por amigos e familiares — com imagens do protesto que parou o Nordeste de Amaralina após o assassinato do jovem. É memória viva, documentada pela própria comunidade.

Dener contou que essa produção mexeu com ele de um jeito diferente: “De todas que já fiz com você, essa tocou em mim de um jeito especial… A essência, a letra, o beat. Foi natural. Foi real.”

O Nordeste de Amaralina, como tantos bairros periféricos de Salvador, é território de potência, de cultura, de luta. Mas também é onde a vida vale pouco diante da estrutura que empurra a favela pro canto, pro silêncio, pro caixão. E Saudade é o contrário disso: é grito. É abraço. É presença.

Essa obra mostra que a favela produz arte, sim. Mas também produz memória. Porque cada beat, cada verso, cada lágrima derramada nessa faixa é um documento vivo. É resistência em forma de som.

E a gente reforça: João Vitor não será esquecido. Porque a comunidade não esquece os seus. Porque a arte feita aqui é feita pra lembrar, pra fazer sentir, pra transformar.

“Saudade” já tá no ar. Disponível no YouTube e em todas as plataformas. Dá o play, compartilha e fortalece essa memória viva.