O Que Fazer Nordeste de Amaralina

O preço da vida no Nordeste de Amaralina

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Gaza tá perdendo para a quantidade de confrontos e para o colapso da segurança pública dentro do Nordeste de Amaralina. Dessa vez, mais um caso grave veio à tona: o carro do padre da Paróquia de Santo André foi alvejado pela segunda vez durante um confronto.

Você já parou pra pensar no impacto que essas situações trazem para a nossa vida? A gente sai de casa pra trabalhar sem saber se vai voltar vivo. Quando consegue voltar, ainda precisa andar quilômetros porque o ônibus não entra na comunidade. Um mês tem trinta dias, e em pelo menos quinze deles acontece algum tiroteio aqui dentro. Essa é uma realidade cruel, que não podemos normalizar jamais. O que queremos é o direito de ir e vir e viver — não apenas sobreviver.

Nossa vida é afetada no trabalho, nossos sonhos são travados, e o crescimento da comunidade fica atrasado em comparação com outras de Salvador. Mesmo com todas as características, potenciais e qualidades que temos, estamos sendo forçados a cogitar sair do nosso lugar por conta do colapso da segurança pública. Cada episódio de violência, cada vida perdida, cada confronto tira um pedaço do nosso pertencimento. Por mais que nas redes sociais e na fala de cada morador a essência verdadeira da comunidade esteja presente, resistir tem sido cada vez mais difícil.

Existe um sistema de desvalorização em massa da comunidade para favorecer a iniciativa privada. O motivo central disso é simples e já foi avisado várias vezes: especulação imobiliária.

O jogo funciona assim: uma imobiliária pode comprar um imóvel desvalorizado por causa da falta de gestão, infraestrutura precária ou pelo aumento da criminalidade. Depois, investe em reformas, melhora a gestão e promove mudanças na vizinhança. Assim, o imóvel volta a se valorizar e é vendido por um preço mais alto.

E por que o Nordeste de Amaralina é tão visado? Porque está localizado em uma das melhores partes de Salvador. Basta olhar: praticamente toda a orla está sendo tomada por construções, até áreas de preservação estão sendo destruídas para erguer complexos de moradias. A nossa comunidade sempre foi alvo disso, desde o desenvolvimento do bairro vizinho, a Pituba.


O que vivemos hoje no Nordeste de Amaralina não é apenas fruto da ausência do Estado em políticas de segurança pública, mas também de uma engrenagem maior que articula violência, medo e desvalorização como estratégias silenciosas de expulsão. Cada tiroteio não representa só uma estatística, mas uma ferramenta de pressão que fragiliza a permanência das famílias no território. Ao mesmo tempo em que o poder público falha em garantir direitos básicos, grandes interesses econômicos se beneficiam do abandono. A violência se torna o pano de fundo ideal para justificar intervenções urbanísticas e especulação, transformando dor em lucro. A questão central, portanto, não é apenas sobre segurança, mas sobre a disputa de território, pertencimento e dignidade. Resistir passa a ser um ato coletivo de sobrevivência e afirmação da nossa existência.