O Que Fazer Nordeste de Amaralina

Nordeste Protagonizando: A Trajetória Inspiradora Elton Obcecado um Produtor de Eventos e MC do Nordeste de Amaralina

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Hoje, no quadro Nordeste Protagonizando, vamos mergulhar na trajetória de um produtor de eventos e MC que nasceu e cresceu no Nordeste de Amaralina. Sua jornada na música é marcada pela resistência, pelo desejo de abrir portas para novos talentos e pela conexão profunda com a comunidade onde cresceu. Vamos conhecer de perto essa história, que é um verdadeiro exemplo de perseverança e transformação.

Como e quando você começou sua carreira na música?

O ponto de partida dessa jornada musical aconteceu em 2001, quando ele tinha apenas 10 anos. Durante uma apresentação de Break Dance na escola “Alegria de Viver”, na Chapada do Rio Vermelho, em homenagem ao Dia das Mães, ele teve seu primeiro contato com o universo do Hip Hop. Mas foi entre 2013 e 2014 que ele mergulhou de vez na cena, buscando rodas de rima e freestyle em Salvador. Foi então que descobriu o evento 3° Round e, em 2019, começou a organizar seus primeiros pocket shows de Rap no Pelourinho e na Batalha do Trem Bala, com a comunidade do Cosme de Farias e Brotas.

Quais foram suas primeiras influências musicais?

Desde a infância, ele foi cercado por música. Em casa, ouvia Benito de Paula e Ritalee, além dos pagodes baianos que marcaram a vida de sua mãe, Dulce. No entanto, foi através de seu tio, casado com sua tia Luciana, que ele teve seu primeiro contato com o Rap. “Racionais MCs, 509-E, Facção Central, Ndee Naldinho e MV Bill eram os sons que mexiam comigo, e isso foi muito impactante”, relembra ele, ao falar sobre as raízes de suas influências musicais.

Quais são os principais desafios que você enfrentou ao longo da sua trajetória?

O maior desafio foi o espaço – ou melhor, a falta dele. Ele relata que a “velha guarda” não abre portas para jovens talentos. “Isso me fez criar meus próprios projetos, voltados para a juventude negra do Nordeste de Amaralina”, conta. A luta pelo protagonismo e pelo direito de expressar sua arte no palco foi constante, mas também motivadora.

Houve algum momento em que você pensou em desistir?

Ele admite que sim, várias vezes. Problemas técnicos em shows, falta de apoio financeiro e dificuldades para construir uma carreira fizeram com que o pensamento de desistir surgisse. No entanto, ele sempre encontrava motivação em parcerias e pessoas que acreditavam em seus projetos. “Acredito na força do tempo, nas energias do universo, e hoje estamos aqui na resistência”, afirma.

Como a sua vivência no Nordeste de Amaralina influenciou suas músicas e letras?

A realidade do bairro sempre esteve presente em suas composições. Ele destaca que o Nordeste de Amaralina, apesar de ser alvo constante de ações do poder público, vive uma situação caótica, onde a segurança pública e a educação são questões centrais. “A autoestima dos moradores vem daqueles que conseguem sair da bolha e acessar outras oportunidades. A música foi minha forma de expressar essa realidade”, explica.

Existe alguma canção que você considera um retrato fiel da comunidade?

A música Zé da Quebrada é a que melhor representa essa conexão. Ela conta a história de diversas personalidades do bairro, e ele acredita que todos têm um “Zé” em sua comunidade. “Na minha quebrada, vários Zés existiram”, reflete, usando essa figura como um símbolo de resistência e vivência nas favelas.

O que você espera que os ouvintes levem de suas canções?

A principal mensagem que ele deseja transmitir é de conscientização. “Espero que as pessoas se conscientizem sobre o impacto das escolhas na juventude e nas gerações futuras”, diz ele, alertando sobre as influências negativas e o poder de exemplo que cada um tem em sua comunidade.

Você pode compartilhar conosco uma experiência marcante em um show na comunidade?

Ele relembra com emoção o festival Feculta, realizado em 2022, onde cerca de 20 mil pessoas estavam presentes. Durante a apresentação do Hip Hop, com a Batalha do Complexo, a polícia militar apareceu com viaturas, tentando intimidar o movimento. Mas ele não recuou. “Pedi para a comunidade dar um passo à frente, sem medo. Foi tenso, mas deu tudo certo. A batalha continuou e distribuímos livros para as crianças no final”, conta, ainda com orgulho.

Como foi a reação do público?

O público apoiou com gritos de protesto e votos de resistência. “Saíram dali com o espírito de justiça”, afirma ele, destacando o impacto que o evento teve, não apenas pela música, mas pela união da comunidade em um momento de resistência cultural.

Como você vê a importância da música como ferramenta de transformação social?

“Música é energia, é a força espiritual que nos liberta”, diz ele, explicando como a música tem o poder de transformar realidades, expressar revoltas e inspirar mudanças.

Quais são os próximos passos na sua carreira?

O projeto PPP.marca, uma marca voltada para a autoestima e a luta contra o genocídio do povo negro, é uma de suas principais frentes atualmente. Além disso, ele está finalizando o álbum Obcecado do Complexo e planejando novos lançamentos de sua marca. Ele acredita que, com organização e execução, grandes coisas estão por vir. “Meu maior sonho é globalizar esse movimento”, confessa.

Quais foram suas maiores conquistas até agora?

Para ele, as maiores conquistas não estão em prêmios, mas no respeito que conquistou dentro do movimento, na consideração das pessoas da sua comunidade e na luta por melhorias estruturais na sua própria casa. “Conseguir manter minha casa de pé foi uma vitória pessoal”, compartilha, emocionado.

A trajetória desse produtor de eventos e MC do Nordeste de Amaralina é a prova viva de que o poder da música vai além dos palcos. É uma ferramenta de luta, resistência e, acima de tudo, esperança. Ele não só protagoniza sua própria história, mas também inspira uma nova geração a lutar pelos seus sonhos, mesmo diante das dificuldades.