O Que Fazer Nordeste de Amaralina

Nordeste de Amaralina no pós-abolição: liberdade na lei, abandono na vida

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A história do território do Nordeste de Amaralina no pós-abolição é um retrato da luta e da resistência do povo negro em Salvador.

Depois de 1888, com o mito do fim da escravidão, o que parecia liberdade na lei virou abandono na prática. Sem terra, sem salário digno, sem acesso à cidade, muitos negros foram empurrados pras margens. Salvador começou a crescer, mas não pra todo mundo. A elite, com suas fazendas decadentes por causa do colapso da monocultura do açúcar, viu no solo urbano uma nova oportunidade de grana. Foi aí que começou o fatiamento das terras que hoje formam a Região Nordeste de Amaralina.

No lugar onde antes era só mata fechada, com cajueiro, dendezeiro, e fontes de água, surgiram os primeiros moradores: ex-trabalhadores das fazendas, pescadores, lavadeiras, caseiros, mulheres negras empregadas nas casas de veraneio. Muita gente do Recôncavo Baiano também chegou nessa leva, fugindo da pobreza no interior e tentando construir uma vida na cidade grande.

O nome “Nordeste de Amaralina” apareceu depois do bairro Amaralina. Era o alto, o fundo da antiga Fazenda Amaralina, com povoamento mais disperso e rural até meados do século XX. Até 1950, ali era mais roça do que cidade. Só a partir das décadas de 60 e 70 é que o território virou o que a gente conhece hoje: densamente povoado, cheio de casas simples, com pouca infraestrutura, mas muita vida, cultura e luta.

Nesse tempo, surgiram as primeiras organizações comunitárias. Em 1957, a comunidade criou a Sociedade de Defesa dos Moradores, que logo foi sufocada pela ditadura militar em 1964. Mesmo assim, a organização popular seguiu firme. Foi da ocupação da sede da sociedade que nasceu a primeira escola comunitária, a Creche Coração da Mamãe.

Com o tempo, a força dos terreiros, da capoeira de Mestre Bimba, das baianas de acarajé, das festas de pescador e dos sambas juninos ajudaram a firmar uma identidade. Um povo negro, trabalhador, vindo de lutas e tradições afro-brasileiras, foi fazendo sua história nas brechas deixadas pela cidade que sempre negou a eles o básico.

A história do Nordeste de Amaralina no pós-abolição é sobre isso: não começou com a chegada da água encanada ou da luz elétrica. Começou com o pé no chão, a mão no barro e a fé de quem nunca desistiu de viver com dignidade. É uma história de exclusão, mas também de criação. De um território que não foi dado: foi construído. E segue sendo, todo dia.