O Que Fazer Nordeste de Amaralina

Balas perdidas e o colapso da segurança pública na favela

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No complexo, cada estalo pode ser sentença. Uma moto que acelera, um pneu que estoura, um grito no beco. Em lugares como o Nordeste de Amaralina, em Salvador, não é exagero dizer que o medo mora ao lado. A cada operação policial ou troca de tiros, um jogo de roleta-russa se instala: quem será o próximo nome no mural das tragédias que poderiam ser evitadas?

A narrativa é sempre parecida. “Estava em casa”, “ia pra padaria”, “tinha saído pra trabalhar”. A vítima, quase sempre, é quem menos tem a ver com a guerra travada entre o Estado e o poder paralelo. Um idoso, uma criança, uma mãe. Gente preta, honesta, periférica. Gente invisível até sangrar.

A pergunta que se repete na comunidade não é mais “quando vai melhorar?”, mas “até quando vai piorar?”. Porque quem vive a rotina de tiros e helicóptero já entendeu: o que está aí não é só falho, é feito pra falhar. A segurança pública nas favelas do Brasil virou teatro de guerra. E quem mais sofre com isso são os inocentes.

Mas será mesmo só uma questão de mais policiamento? De mais armamento? De mais presídios? Não. A resposta precisa vir de um outro lugar. Um lugar de escuta, de investimento, de transformação estrutural. Porque não se combate o crime com repressão cega. Se combate o crime com escola de qualidade, com centro cultural funcionando, com quadra esportiva aberta, com dignidade.

O Estado não perdeu o controle. O Estado escolheu não controlar. Escolheu onde entra a escola de tempo integral e onde entra a chocolate. Escolheu onde tem biblioteca e onde o QG do RJ em Salvador. Onde o futuro é projeto e onde é sobrevivência.

Pra mudar isso, não basta remendar. Não se melhora o que foi feito pra não dar certo. É preciso refundar. Colocar no centro da política pública a criança da favela, a mãe solo da periferia, o jovem preto que quer viver. Investir pesado em educação que liberta, em cultura que empodera, em esporte que acolhe.

E, acima de tudo, ouvir quem tá na ponta. Porque o povo da favela sabe o que precisa. Sabe que a paz não se faz com bala. Se faz com presença. Com política pública real. Com respeito.
Enquanto isso não vem, a favela resiste. E faz sua parte, com os coletivos culturais, com música e produções artísticas, com os mutirões de saúde, com os torneios de futebol. Porque aqui, apesar de tudo, ainda se sonha.

Mas o recado tá dado: não dá mais pra seguir normalizando o absurdo. Não dá mais pra aceitar que vidas periféricas valem menos. O que está aqui não precisa apenas melhorar. Precisa mudar do chão ao teto.