Em um bairro com cerca de cem mil habitantes, onde cada casa abriga em média cinco pessoas, o direito ao lazer ainda é raro. As opções se resumem a três espaços: a Praia de Amaralina, o Parque da Cidade e os paredões, pouco diante da grandiosidade de uma comunidade inteira.
É nos paredões que a juventude encontra não apenas diversão, mas pertencimento. Ali, milhares de jovens transformam a rua em espaço de convivência e resistência. Mesmo atravessados por conflitos, como o direito ao silêncio da vizinhança, e sob olhares criminalizadores, os paredões se consolidaram como a maior manifestação coletiva das favelas de Salvador na atualidade.
Mas a pergunta que fica é: como cobrar de uma juventude que “evolua” se ela não tem sequer um centro cultural? Onde estão as bibliotecas de bairro, as oficinas de teatro, os cursos de formação, os espaços para potencializar talentos em arte e cultura? A ausência é gritante.
A mesma juventude que é privada de acesso a lazer e cultura é, ao mesmo tempo, presença constante nas páginas policiais. A exposição sensacionalista reforça um estigma e destroí o sentimento de pertencimento comunitário. O jovem periférico é reduzido a número de estatística criminal, quando poderia ser reconhecido como produtor de cultura, de arte, de conhecimento.
O que mantém a comunidade de pé não são as políticas públicas, mas as próprias iniciativas de sobrevivência e convivência criadas pela juventude. O fio que impede o colapso está nos encontros coletivos, mesmo que precários, que garantem respiro diante de um cotidiano atravessado pela violência e pela desigualdade.
Enquanto o Estado se mantém ausente na criação de espaços culturais e na valorização de iniciativas que poderiam formar e transformar, a juventude periférica segue resistindo, inventa seus próprios caminhos, cria seu próprio lazer e encontra, na luta diária, formas de existir e de se afirmar.









