Quando se fala em favelas no Brasil, o Rio de Janeiro costuma ocupar o centro das atenções, com o Morro da Providência frequentemente citado como a primeira favela do país. No entanto, essa narrativa ignora a complexidade e a diversidade das origens das comunidades periféricas em outras regiões, especialmente em Salvador, Bahia.
Salvador: Berço de Comunidades Negras e Resistência
Salvador, primeira capital do Brasil, foi palco de intensas transformações sociais após o processo da abolição da escravatura em 1888. Milhares de ancestrais libertos, sem acesso à terra, moradia ou trabalho digno, buscaram formas de sobrevivência nas margens da cidade. Formaram-se comunidades em áreas como o Cabula, Liberdade, Engenho Velho da Federação, Alagados e o Nordeste de Amaralina, que se tornaram espaços de resistência e preservação cultural.
Essas comunidades, embora não tenham sido inicialmente denominadas “favelas”, compartilhavam características semelhantes: ocupações informais, ausência de infraestrutura e forte senso de comunidade. A história dessas áreas é marcada por lutas por moradia, venda de lotes de maneira clandestina e enfrentamentos com o poder público, além de uma constante busca por reconhecimento e dignidade.
A Centralização do Discurso e a Invisibilização de Outras Realidades
A predominância do Rio de Janeiro e São Paulo nas narrativas sobre favelas reflete uma tendência histórica de centralização do poder político, econômico e midiático no eixo Sudeste. Essa perspectiva reduz a compreensão da diversidade das experiências urbanas brasileiras e marginaliza as histórias de resistência e organização comunitária em outras regiões.
Em Salvador, por exemplo, a formação de comunidades periféricas está intrinsecamente ligada à história da população negra e à luta por espaço e reconhecimento. A invisibilização dessas histórias contribui para a perpetuação de estigmas e para a falta de políticas públicas adequadas às realidades locais.
Reconhecendo a Diversidade das Experiências Urbanas
É fundamental ampliar o olhar sobre as favelas no Brasil, reconhecendo que a experiência carioca é apenas uma entre muitas. Cada cidade possui sua própria trajetória de urbanização, marcada por contextos históricos, sociais e culturais específicos. Valorizar essas diferentes histórias é essencial para a construção de políticas públicas mais justas e eficazes.
Em Salvador, as comunidades periféricas continuam a desempenhar um papel central na vida urbana, sendo espaços de cultura, solidariedade e resistência. Reconhecer e valorizar essas comunidades é um passo importante para a construção de uma sociedade mais equitativa e inclusiva.
Este texto busca trazer à tona a importância de reconhecer a diversidade das experiências urbanas brasileiras, destacando a relevância das comunidades periféricas de Salvador na história das favelas no país.